#279 – Água: BÔNUS – ajustando seu perfil de água

Brassagem Forte - Água

Ajuste de água na prática: aplicações em três estilos de cerveja

Introdução: a água como elemento final (e essencial)

Neste episódio bônus, que encerra a série sobre água no Brassagem Forte, Henrique Boaventura e Gabriela Lando, a Química Cervejeira, se aprofundam na aplicação prática dos conhecimentos discutidos em episódios anteriores.

A proposta? Ajustar a água para três estilos diferentes de cerveja utilizando dois perfis opostos: uma água de superfície (pouco mineralizada) e uma água de poço (alta alcalinidade).

O objetivo aqui não é apenas aplicar concentrações em um software como Brewfather ou Beersmith, mas entender o raciocínio por trás dos ajustes, seus impactos sensoriais e técnicos, e como alcançar o equilíbrio necessário para extrair o melhor de cada receita.

É mais um episódio com a parceria da Lamas Brewshop, da Hops Company, da Levteck e da Cerveja Stannis. O papo tá imperdível!

O que nos ensinou John Palmer?

Antes de entrar nos números, Gabriela resgata conceitos fundamentais do livro Water, de John Palmer:

  • Objetivo da correção da água: melhorar o sabor da cerveja, nunca complicar o processo.
  • Menos é mais: evitar excesso de mineralização, respeitando os limites recomendados para cada mineral.
  • Repetição e calibração: são necessários de 3 a 5 lotes para encontrar o ponto ideal.
  • Faixa de pH ideal da mostura: entre 5,2 e 5,6. Medir sempre com pH-metro calibrado.
  • Evite pressa e exageros: “Meça duas vezes, adicione uma.”
  • Não tenha medo de errar: experimente, mas com responsabilidade técnica e sanitária.

Os perfis de água utilizados

Água de superfície (padrão de rede urbana)

  • pH: 6,2
  • Cálcio (Ca): 6 ppm
  • Magnésio (Mg): 2 ppm
  • Sódio (Na): 5 ppm
  • Cloreto (Cl): 12 ppm
  • Sulfato (SO₄): 15 ppm
  • Bicarbonato (HCO₃): 10 ppm
  • Alcalinidade: 8 ppm
  • Alcalinidade residual: 2,5 ppm

Água de poço (alta alcalinidade)

  • pH: 7,1
  • Cálcio: 35 ppm
  • Magnésio: 7 ppm
  • Sódio: 13 ppm
  • Cloreto: 15 ppm
  • Sulfato: 0 ppm (abaixo do limite de detecção)
  • Bicarbonato: 160 ppm
  • Alcalinidade: 131 ppm
  • Alcalinidade residual: 102 ppm
       
ÁguaSuperficial (S)Poço (P)
pH6,27,1
Ca2+(cálcio)6 ppm35 ppm
Mg2+ (magnésio)2 ppm7 ppm
Na+ (sódio)5 ppm13 ppm
Cl (cloreto)12 ppm15 ppm
SO42- (sulfato)15 ppm0 ppm
HCO3 (bicarbonato)10 ppm160 ppm
Alcalinidade8 ppm131 ppm
RA2,5 (3 no Brewfather)102

Estudo de Caso 1: Cream Ale

Características do estilo

A Cream Ale é uma cerveja leve, limpa, neutra, refrescante e com leve caráter maltado. Altamente carbonatada, é ideal para consumo em atividades ao ar livre, com atenuação elevada e pouco amargor.

Receita base (brew in a bag)

  • 4,5 kg de malte Pilsen
  • 500 g de milho em flocos
  • 150 g de açúcar comum
  • Volume total de água: 34 L
  • Volume final de mostura: 21 L
  • Eficiência: 70%

Diretrizes de perfil de água (segundo Palmer)

Para uma cerveja clara, leve e com amargor de baixo a médio:

  • Cálcio: 50–100 ppm
  • Magnésio: até 30 ppm
  • Cloreto: até 100 ppm
  • Sulfato: até 50 ppm
  • Razão Sulfato/Cloreto: ~1,3
  • Alcalinidade residual: entre -30 e 0 ppm

Ajuste da água de superfície

Problema: Baixos níveis de cálcio e magnésio.
Solução proposta:

  • Aumentar cálcio para 60 ppm
  • Aumentar magnésio para 10 ppm (opcional)

Impacto da alteração:

  • Com cálcio e magnésio: alcalinidade residual = -40
  • Apenas cálcio: alcalinidade residual = -36

Adição de sais (para 34 L de água):

  • 3 g de cloreto de cálcio (CaCl₂)
  • 3,3 g de sulfato de cálcio (CaSO₄)

Resultado:

  • Sulfato = 70 ppm
  • Cloreto = 55 ppm
  • Razão ≈ 1,3
  • Alcalinidade residual = -31

Nota: Magnésio poderia ser adicionado, mas não foi neste caso para evitar ultrapassar a proporção ideal e não carregar o perfil sensorial.

Ajuste da água de poço

Problema: Alcalinidade muito elevada (102 ppm).
Adição dos mesmos sais (CaCl₂ e CaSO₄):

  • 2,8 g de cloreto de cálcio
  • 4,8 g de sulfato de cálcio

Resultado:

  • Cálcio = 87 ppm
  • Alcalinidade residual = 65 ppm

Solução complementar:

  • Acidificação com ácido lático a 80%
  • Previsão de adição: 4,5 mL para alcançar pH 5,6

Alerta importante:

  • Não confiar 100% nas previsões do Brewfather; sempre usar pH-metro calibrado durante a mostura.
Cream AleS (início)S (final)P (início)P (final)
Ca2+6 ppm53 ppm35 ppm86 ppm
Mg2+2 ppm2 ppm7 ppm7 ppm
Na+5 ppm5 ppm13 ppm13 ppm
Cl12 ppm55 ppm15 ppm55 ppm
SO42-15 ppm70 ppm0 ppm70 ppm
HCO310 ppm160 ppm
Alcalinidade8 ppm131 ppm
RA3-3110265
Acidificação?TalvezSim
Adições3 g de cloreto de cálcio (CaCl2)
3,3 g de sulfato de cálcio (CaSO4)
2,5 g de cloreto de cálcio (CaCl2)
4,2 g de sulfato de cálcio (CaSO4)
Volume34 L de água

Considerações técnicas importantes

  • Sais sempre vêm com nome e sobrenome: usar cloreto de cálcio e sulfato de cálcio implica em adicionar tanto o cátion (Ca²⁺) quanto o ânion (Cl⁻ ou SO₄²⁻). Isso afeta múltiplos parâmetros.
  • O pH é logarítmico, não linear: pequenas adições de ácido podem ter impactos desproporcionais. Ajuste com calma e com acompanhamento em tempo real.
  • Só ajuste pH depois da adição do malte: os maltes afetam fortemente o pH da mostura, especialmente maltes escuros ou cristal.
  • O ácido lático é o mais indicado para ajuste de pH: o fosfórico pode interferir com o cálcio e prejudicar o processo.

Estudo de Caso 2: American IPA

Características do estilo

Segundo o BJCP, a American IPA é uma cerveja clara, de teor alcoólico moderadamente alto, com destaque para o lúpulo — tanto no aroma quanto no amargor. Seu perfil de fermentação é limpo, com final seco e amargor assertivo.

Receita utilizada

Baseada na Punk IPA da BrewDog:

  • 6 kg de malte Pale
  • 330 g de Caramunique I
  • Mostura com 35,5 L de água, fervura com 31,8 L
  • Lote final: 21 L

Diretrizes de perfil de água para o estilo

Conforme Palmer:

  • Cálcio: 50–150 ppm
  • Magnésio: 0–30 ppm
  • Cloreto: 0–100 ppm
  • Sulfato: 100–400 ppm
  • Relação Sulfato:Cloreto: 2,5 a 4
  • Alcalinidade residual: -30 a +30 ppm

Ajuste da água de superfície

Objetivo: manter a intensidade de lúpulo sem excesso de minerais.

  • Sulfato: 200 ppm
  • Cloreto: 75 ppm → Razão: 2,7
  • Magnésio: 12 ppm para evitar excesso de cálcio
  • Cálcio: 103 ppm

Adições por 35,5 L de água:

  • 9,3 g de sulfato de cálcio (CaSO₄)
  • 13,5 g de sulfato de magnésio (MgSO₄)
  • 13,5 g de cloreto de cálcio (CaCl₂)

Resultado técnico:

  • pH estimado: ~5,4
  • Se necessário, ajuste com bicarbonato de sódio:
    • 2,5 g → aumenta alcalinidade residual para -30 ppm
    • Sódio resultante: 24 ppm

Ajuste da água de poço

Água com elevada alcalinidade exige maior atenção.

Adições por 35,5 L:

  • 7,1 g de CaSO₄
  • 8 g de MgSO₄
  • 3,4 g de CaCl₂

Resultados:

  • Cálcio = 116 ppm
  • Magnésio = 29 ppm
  • Alcalinidade residual = 31 ppm

Acidificação necessária: 1,3 mL de ácido lático (80%) para pH 5,6

American IPAS (início)S (final)P (início)P (final)
Ca2+6 ppm103 ppm35 ppm116 ppm
Mg2+2 ppm12 ppm7 ppm29 ppm
Na+5 ppm24 ppm13 ppm13 ppm
Cl12 ppm75 ppm15 ppm76 ppm
SO42-15 ppm200 ppm0 ppm200 ppm
HCO310 ppm160 ppm
Alcalinidade8 ppm131 ppm
RA3-3010231
Acidificação?NãoSim
Adições2,5 g de bicarbonato de sódio (NaHCO3)
3,5 g de cloreto de cálcio (CaCl2)9,3 g de sulfato de cálcio (CaSO4)3,5 g de sulfato de magnésio (MgSO4)
3,4 g de cloreto de cálcio (CaCl2)
7,1 g de sulfato de cálcio (CaSO4)8 g de sulfato de magnésio (MgSO4)
Volume35,5 L de água

Estudo de Caso 3: Irish Stout

Características do estilo

Estilo preto com sabor torrado pronunciado. Pode variar de levemente maltada até extremamente seca e amarga. O perfil sensorial remete a café e chocolate, com ou sem cremosidade, dependendo do método de serviço.

Receita

  • 3 kg de malte Pale
  • 650 g de cevada em flocos
  • 320 g de cevada torrada
  • 33,5 L de água de mostura, fervura com 31 L
  • Lote final: 21 L

Parâmetros ideais para o estilo (Palmer)

  • Cálcio: 50–75 ppm
  • Magnésio: 0–30 ppm
  • Cloreto e sulfato: 50–150 ppm cada
  • Relação: ~1:1
  • Alcalinidade residual: 60–120 ppm
  • Águas alcalinas são desejáveis

Ajuste com água superficial

Desafio: baixa alcalinidade pode levar a pH abaixo do ideal com maltes escuros.

Evitar uso de carbonato de cálcio: difícil solubilização.
Solução:

  • Usar bicarbonato de sódio para elevar a alcalinidade
  • Evitar práticas como adicionar sais sobre a cama de grãos — não há eficácia comprovada

Composição final da água (para 33,5 L):

  • 3,6 g de CaSO₄
  • 4,3 g de CaCl₂
  • 3,4 g de bicarbonato de sódio

Resultados:

  • Alcalinidade = 82 ppm
  • Cálcio = 66 ppm
  • Sódio = 33 ppm
  • Sulfato e cloreto = 75 ppm cada

Ajuste com água de poço

Vantagem: alcalinidade já elevada, ideal para maltes torrados.
Desafio: ausência de sulfato → necessário adicionar.

Adições (para 33,5 L):

  • 2 g de CaSO₄
  • 3,2 g de CaCl₂
  • 2,3 g de MgSO₄

Resultados:

  • Cálcio = 75 ppm
  • Magnésio = 14 ppm
  • Sulfato e cloreto = 60 ppm cada
  • Alcalinidade residual = 69 ppm

Atenção especial:

  • Mesmo com água alcalina, medir o pH é essencial.
  • Maltes escuros variam muito de cor real em relação ao valor estimado nas calculadoras (como Brewfather).

Ideal: solicitar ao fornecedor o EBC real dos maltes.

Irish StoutS (início)S (final)P (início)P (final)
Ca2+6 ppm66 ppm35 ppm75 ppm
Mg2+2 ppm2 ppm7 ppm14 ppm
Na+5 ppm33 ppm13 ppm13 ppm
Cl12 ppm75 ppm15 ppm60 ppm
SO42-15 ppm75 ppm0 ppm60 ppm
HCO310 ppm160 ppm
Alcalinidade8 ppm131 ppm
RA31910269
Acidificação?NãoSim
Adições3,4 g de bicarbonato de sódio (NaHCO3)
4,3 g de cloreto de cálcio (CaCl2)3,6 g de sulfato de cálcio (CaSO4)
3,2 g de cloreto de cálcio (CaCl2)
2 g de sulfato de cálcio (CaSO4)2,3 g de sulfato de magnésio (MgSO4)
Volume33,5 L de água

Conclusão: ajuste de a água é estratégia e prática

O ajuste do perfil de água é uma das ferramentas mais poderosas para a construção do perfil sensorial e técnico de uma cerveja. Como visto nos três exemplos — Cream Ale, American IPA e Irish Stout —, diferentes fontes de água e objetivos de estilo exigem estratégias distintas:

  • Águas pouco mineralizadas exigem complementação precisa de sais e atenção com o pH.
  • Águas de poço podem facilitar receitas escuras, mas exigem controle de minerais específicos.
  • Não há atalhos: medição de pH durante a mostura é obrigatória.
  • O uso consciente de sais (com “nome e sobrenome”) evita desequilíbrios técnicos.
  • Ferramentas como o Brewfather são úteis, mas não substituem a medição real com pH-metros calibrados.

E por fim, o ajuste de água é tanto uma ciência quanto uma arte. Exige testes, paciência, observação e curiosidade. Como resumiu Gabriela , o mantra que deve ficar após essa série é simples e direto:

“Meça o pH da mostura.”

Leituras recomendadas

  1. Água (Palmer & Kaminski) – Editora Krater
  2. How to Brew (John Palmer) – Edição em português ampliada
  3. Ciência da Cerveja (Luís Torre) – Tradução e edição por Gabriela Lando
  4. Química da Cerveja (Alfredo A. Muxel) – Professor da UFSC

Essas obras são ótimos pontos de partida (e aprofundamento) para quem deseja entender melhor como a água influencia — e pode transformar — a cerveja que você produz!

#278 – Brassando com Estilo: Rye IPA

Brassando com Estilo - Rye IPA

Rye IPA: guia completo para produzir a India Pale Ale com centeio

O que é a Rye IPA?

As specialty IPAs surgem como uma ramificação das tradicionais American IPAs, criadas para destacar características específicas que justificam sua separação. A Rye IPA (ou IPA com centeio) é uma dessas variações modernas, trazendo um diferencial sensorial interessante: o uso de malte de centeio.

Segundo o BJCP (Beer Judge Certification Program), a Rye IPA é essencialmente uma American IPA com adição de malte de centeio, o que confere um sabor condimentado, lembrando pão apimentado, com corpo aveludado e cremoso. Além disso, o final costuma ser mais seco, com notas de cereais — tudo isso, claro, dependendo da composição da receita.

Com a parceria da Lamas Brewshop, da Hops Company, da Levteck e da Cerveja Stannis, na companhia do químico e cervejeiro Duan Ceola, exploramos os detalhes e as melhores abordagens para a produção desse instigante estilo contemporâneo.

Perfil Sensorial da Rye IPA

Aroma

O aroma predominante segue o padrão das American IPAs, com lúpulos intensos trazendo notas de frutas tropicais, frutas de caroço, cítricos, resina, pinho e até frutas vermelhas ou melão. Em segundo plano, há um leve toque apimentado do malte de centeio, complementado por um perfil de fermentação limpo, com ésteres e álcool leves e opcionais.

Aparência

A coloração varia entre dourado médio e âmbar claro. A turbidez leve é aceitável, especialmente pela presença do centeio. A espuma costuma ser de cor branca, com formação e retenção boas.

Sabor

O lúpulo é o protagonista, com intensidade de médio a muito alto. O suporte maltado é limpo, de baixo a médio-baixo, podendo trazer leves notas de caramelo e tostado. O centeio contribui com um sabor picante e apimentado perceptível, o que reforça a secura no final do gole.

Sensação na boca

O corpo varia de médio-leve a médio, com textura macia e até levemente cremosa. A carbonatação tende a ser média ou média-alta, sem aspereza. Um leve aquecimento alcoólico é aceitável.

Comparação com outras IPAs

A Rye IPA é considerada uma variação da American IPA e deve ter o caráter de centeio perceptível. Caso contrário, deve ser inscrita como uma 21A – American IPA. Sensorialmente, é uma cerveja mais seca, picante e cremosa do que a maioria das American IPAs, com um final persistente e condimentado.

Parâmetros Técnicos da Rye IPA

  • OG (Densidade Inicial): 1.056 – 1.075
  • FG (Densidade Final): 1.008 – 1.014
  • IBU: 50 – 75
  • SRM: 6 – 14
  • ABV: 5,5 – 8%
  • Exemplos comerciais: Founders Red Rye IPA e Sierra Nevada Ruthless Rye

Maltes e o papel do centeio

Existem várias formas de centeio que podem ser usadas em uma Rye IPA:

  • Malte de centeio: contém enzimas que ajudam na conversão de amido, traz dulçor, picância, corpo e viscosidade ao mosto.
  • Centeio em flocos ou grão cru: não tem enzimas, mas contribui para retenção de espuma e sensação sedosa, embora possa complicar a filtração.

É essencial escolher insumos de qualidade, evitando centeios enriquecidos com metais (como os vendidos para alimentação humana), que podem oxidar a cerveja e deixá-la escura e opaca.

Criando sua receita de Rye IPA

Proporções sugeridas

  • 15% Malte de Centeio
  • 80% Malte Pilsen ou Pale Ale
  • 5% Malte Biscuit (para adicionar leve toque torrado, semelhante ao Maris Otter)

Malte Biscuit agrega sabor sutil e combina bem com lúpulos. Já o malte Viena pode acelerar a oxidação sensorial da cerveja. Maltes caramelos/crystal devem ser usados com moderação (até 2%).

Estratégias de mostura e uso de enzimas

O centeio contém alto teor de beta-glucanos, o que pode tornar a mostura complexa, especialmente em BIAB. Recomenda-se:

  • Parada protéica entre 45–55 °C por 10 a 15 minutos (uso acima de 15%)
  • Uso de enzimas como beta-glucanase ou amilase
  • Conhecimento do equipamento para evitar perda de retenção de espuma

Lúpulos para Rye IPA: modernos e clássicos

Na fervura
  • Citra, Columbus ou Magnum
  • 1 g/L a 30 minutos do fim da fervura
Whirlpool
  • Aida Rosetti CryoHops: 5 g/L a 40–60 °C por 20 minutos
Dry Hopping
  • 1ª adição: 4 g/L de Citra
  • 2ª adição: 3 g/L de Galaxy, Riwaka, Motueka
Lúpulos clássicos que combinam

Centennial, Cascade, Columbus e Chinook funcionam muito bem com o centeio, trazendo perfil “old school” resinoso e herbáceo.

Escolha da Levedura

Opções com perfil neutro:

  • US-05 – confiável
  • K-97 – subestimada, ótima floculação e interação com lúpulos

Fermentação ideal entre 16 °C e 17 °C.

Perfil de Água e pH

  • 100 ppm Sulfato (CaSO₄)
  • 50 ppm Cloreto (CaCl₂)
  • 50 ppm Cloreto (NaCl)
  • pH de mostura: 5.2 a 5.4
  • Baixa alcalinidade favorece leve turbidez desejada

Carbonatação Ideal

  • Entre 2.5 e 2.7 volumes de CO₂
  • Abaixo disso: sensação empapucenta
  • Acima disso: frisante e agressiva

Receita Modelo

Grãos:
  • 80% Malte Pilsen
  • 5% Malte Biscuit
  • 15% Malte de Centeio
Água:
  • 100 ppm Sulfato (CaSO₄)
  • 50 ppm Cloreto (CaCl₂)
  • 50 ppm Cloreto (NaCl)
Lúpulos:
  • Citra (1 g/L – 30 min)
  • Aida Rosetti CryoHops (5 g/L – Whirlpool a 40–60 °C)
  • Dry Hopping: 4 g/L Citra + 3 g/L Galaxy
Levedura:
  • K-97 (pitching 0,75, 17 °C)
Mostura:
  • Parada protéica: 15 min a ~53 °C
  • 40 min a 63 °C
  • 15 min a 72 °C
  • Mashout opcional
pH:
  • Mostura: 5.2
  • Fervura: 5.15–5.2
  • Mosto final: ~5.1

Conclusão: Uma IPA para quem busca mais complexidade

A Rye IPA é uma expressão criativa e ousada dentro do universo das IPAs. Sua construção exige atenção a detalhes técnicos — do uso de enzimas à seleção de lúpulos, do controle do pH à escolha da levedura. O centeio, quando bem trabalhado, entrega complexidade, corpo e uma picância que desafiam o paladar e convidam à experimentação.

Embora pouco representada em concursos e ainda rara no mercado, a Rye IPA oferece grande potencial sensorial e espaço para inovação. Seja com lúpulos modernos ou clássicos, em perfil turvo ou límpido, essa cerveja mostra que tradição e criatividade podem coexistir no copo.