#283 – Brassando com Estilo: American Porter

American Porter

Como fazer uma American Porter: história, receita e guia completo do estilo

Neste episódio do Brassagem Forte, Henrique Boaventura recebeu Ingrid Matos para mergulhar na história e nos detalhes técnicos da American Porter, um estilo de cerveja escura que une a tradição britânica e a ousadia do lúpulo americano.

Com a parceria da Lamas Brewshop, da Hops Company, da Levteck e da Cerveja Stannis, você vai descobrir como fazer uma American Porter de forma precisa, com todos os detalhes discutidos por capacitadíssimos especialistas!

História da American Porter: Origens e Renascimento

A gênese e os blends históricos

A Porter nasceu na Inglaterra do século XVIII como a cerveja do trabalhador, popularizada pelos blends em pubs. Misturas de Mild Ale, Old Ale e Pale Ale criaram perfis únicos que chegaram até nós, mesmo que a gênese exata do estilo permaneça incerta.

O renascimento do estilo em versão americana

Em 1984, o renascimento da Porter na Inglaterra inspirou o surgimento das American Porters, marcadas por aroma e amargor de lúpulo em contraste com maltes torrados. Exemplos clássicos incluem Anchor Porter, Bells Porter e Deschutes Black Butte.

A American Porter segundo o BJCP

Impressão geral e perfil sensorial

  • Cerveja escura, maltada, com amargor médio a alto.
  • Aroma de chocolate, café leve, notas de caramelo ou toffee e presença opcional de ésteres frutados.
  • Aparência marrom escuro a preto, reflexos rubi, colarinho castanho.
  • Sabor equilibrado entre malte torrado e amargor, com final seco ou meio doce.

Parâmetros técnicos

  • OG: 1.050 a 1.070
  • FG: 1.012 a 1.018
  • Amargor: 25 a 50 IBU
  • Cor: 22 a 40 SRM
  • ABV: 4,8% a 6,5%

Maltes e construção do corpo

Maltes base, especiais e torrados

A base da receita inclui:

  • Malte Pilsen Agrária (88-89%)
  • Melanoidin (4-6%) para dulçor e cor rubi
  • Carafa 3 Special (~3%) para cor intensa e café
  • Malte Chocolate ou Carafa 2/Kestel para notas de chocolate.

Maltes caramelo até 10% podem ser usados para dulçor e frutas escuras, mas sem exageros para manter o equilíbrio.

Lúpulos na American Porter: contraste e equilíbrio

Escolha e adições de lúpulo

  • Lúpulos clássicos: Northern Brewer, Cascade, Goldings.
  • Ingrid recomenda Amarillo para notas de laranja que combinam com chocolate dos maltes.
  • Evite lúpulos muito intensos como Nelson Sauvin para não desequilibrar.
  • Amargor no início da fervura e aroma no whirlpool, sem exageros no dry hopping.

Fermentação e levedura para American Porter

Levedura ideal e perfil de fermentação

  • London Ale (Levitec) como levedura preferida por Ingrid: esterificação rica em frutas vermelhas.

Fermentação entre 18-20°C, garantindo complexidade sensorial e equilíbrio.

Ajustes de água e carbonatação

Perfil de água recomendado

  • Água levemente dura (50-100 ppm de cálcio) para ressaltar o malte.

Para quem não controla pH, adição dos maltes torrados no final da mostura ajuda a manter o equilíbrio.

Carbonatação no estilo

Carbonatação média a média-alta (2,5-2,7 volumes) para realçar aromas e manter o perfil clássico da American Porter.

Receita completa de American Porter

Ingredientes

  • Malte Pilsen Agrária (88-89%)
  • Melanoidin (~4-6%)
  • Carafa 3 Special (~3%)
  • Malte Chocolate ou Carafa 2/Kestel
  • Lúpulo amargor: Columbus, Magnum ou Galena
  • Lúpulo aroma: Amarillo no whirlpool (1 g/L)
  • Levedura: London Ale (Levitec), 18-20 °C
  • OG: 1.065-1.068 | FG: 1.008-1.010
  • IBU: 38-40 | ABV: 6-6,5%

Conclusão

A American Porter é um estilo que equilibra tradição e inovação, destacando-se pelo contraste entre malte torrado e lúpulo americano. Produzir essa cerveja exige atenção aos detalhes, honestidade com o estilo e paixão pela cerveja artesanal. Consuma, valorize e compartilhe — assim mantemos viva a cultura cervejeira!

#277 – Floor Malt: o malte artesanal que transforma estilos clássicos de cerveja

Floor malt

Neste episódio do Brassagem Forte, Henrique Boaventura convida Gustavo Simoni, da Koala San Brew, para uma conversa sobre floor malt, ingrediente distinto, especial, obtido por processos tradicionais, com potencial enorme no resultado final da sua cerveja!

Com a parceria da Lamas Brewshop, da Hops Company, da Levteck e da Cerveja Stannis, vem com a gente pra mais um papo enriquecedor!

Introdução: tradição que vive no copo

O floor malt, ou malte germinado no chão, é mais do que um insumo raro. É um elo entre a história cervejeira e o paladar moderno.

Vamos explorar como esse tipo de malte influencia lagers tchecas, cervejas britânicas históricas e como ele exige domínio técnico em cada etapa: da cevada à taça.

O que é Floor Malt?

O floor malt é produzido por meio de um processo tradicional em que os grãos germinam espalhados em camadas finas no chão, em galpões com temperatura e umidade controladas. Diferente da maltagem industrial, esse processo é manual, mais lento e preserva compostos sensoriais únicos.

Diferenças sensoriais: Floor Malt vs. Maltes modernos

Maltes como o Pilsen Weyermann são limpos, estáveis e fáceis de trabalhar. Já o floor malt oferece notas mais complexas: pão fermentado, herbal, floral, rusticidade e profundidade. Isso exige mais cuidado — mas recompensa quem sabe o que está fazendo.

A microbiota do ambiente importa

Produzido em galpões rústicos, o floor malt carrega também a assinatura da microbiota local. Esses microrganismos influenciam sutilmente o sabor do malte, o que não acontece nas maltarias industriais altamente assépticas.

Decocção: técnica essencial para maltes tradicionais

A decocção — técnica de aquecer partes da mostura — é quase obrigatória com floor malt. Ela ajuda a quebrar proteínas, liberar açúcares e controlar compostos indesejáveis, como o DMS (sulfeto de dimetila). Sem ela, o rendimento cai e sabores desagradáveis aparecem no produto.

Estilos que brilham com Floor Malted
✅ Lagers Tchecas (Pilsners, Tmavé, Polotmavé)
  • Perfil maltado arredondado
  • Pouca adstringência
  • Sensação de corpo e complexidade
✅ Ales históricas inglesas (Burton, Old Ale, IPA inglesa)
  • Floor malts britânicos como Chevalier e Haná trazem riqueza e estrutura
✅ Imperial Stouts e estilos intensos
  • Combinam bem com floor malts em fervuras longas e caramelizações

Gustavo compartilha a aplicação prática do floor malt nas cervejas da Koala, com foco na escola tcheca:

  • Closer to the Truth (lager clara com técnica de barril encerado)
  • Sličace (osmítica com 3% e complexidade surpreendente)
  • Principia, Manchester, Heio Heio (escura, polotmavé, doppelbock)

Eles importam maltes de diferentes genéticas e variedades, além de selecionarem lúpulos diretamente das fazendas.

Floor malt: não dá pra imitar

Henrique e Gustavo são enfáticos: não se replica o que o floor malt oferece. Misturar maltes comuns com melanoidina não gera o mesmo resultado. Quem prova, sente a diferença.

O elo final: levedura e serviço

Trabalhar com floor malt exige também leveduras específicas, como as fornecidas pela Levteck. E não se pode esquecer do serviço: copos, lavagem e temperatura final fazem parte do ritual de respeito ao produto.

Conclusão: mais do que malte, é cultura líquida

O floor malt é um ingrediente que ensina. Ele exige conhecimento, planejamento e respeito ao processo. Quando usado corretamente, entrega camadas de sabor que nenhuma combinação de maltes industriais consegue alcançar.

Em um mundo que valoriza cada vez mais a eficiência, o floor malt nos lembra que o tempo, o toque humano e a história ainda têm um lugar no copo!