#262 – Brassando com Estilo: Belgian Single

Belgian Single: História, Produção e os Desafios da Classificação no BJCP

A Belgian Single é um estilo de cerveja belga tradicionalmente produzido em monastérios, mas que ganhou definição moderna apenas recentemente. Popular entre cervejeiros caseiros e comerciais, essa cerveja combina leveza, alta atenuação e um amargor distinto, tornando-se uma escolha versátil para quem aprecia as características das trapistas sem um alto teor alcoólico.

Com a parceria da Lamas Brewshop, da Hops Company, da Levteck e da Cerveja Stannis, e juntamente com o Jamal Awadallak, vamos explorar a história, a produção e os desafios da classificação da Belgian Single no BJCP, além de dicas para replicá-la com autenticidade.


O que é a Belgian Single?

A Belgian Single é um estilo de cerveja de baixo teor alcoólico, geralmente entre 4,8% e 6% ABV, sendo uma versão mais leve das Belgian Tripels e Blondes. Historicamente, as cervejas de mosteiros e abadias belgas possuíam variantes mais fracas destinadas ao consumo dos monges. No entanto, a primeira referência moderna desse estilo surgiu apenas em 1999, com a Westvleteren Blonde.

Uma característica interessante da cultura cervejeira belga é que, ao contrário do que ocorre em outros países, os produtores não se preocupam tanto com a definição de estilos. Muitas cervejas belgas são nomeadas com base na sua densidade original (Plato), cor ou simplesmente recebem um nome próprio, sem uma categorização formal.


Perfil Sensorial da Belgian Single

A Belgian Single se destaca pelo equilíbrio entre a fermentação limpa e o uso de lúpulos nobres, mantendo alta drinkability. Confira as principais características:

Aparência: Amarelo-clara a dourado-médio, geralmente límpida, mas pode apresentar turbidez devido à refermentação na garrafa.
Aroma e Sabor: Frutado e condimentado na medida certa, com notas de pão, mel e biscoito. O lúpulo é perceptível, proporcionando amargor médio a alto.
Atenuação: Elevada, acima de 85%, resultando em um final seco e refrescante.
Carbonatação: Alta (2,5 a 3,0 volumes de CO₂), conferindo uma textura efervescente e leveza.

O BJCP (Beer Judge Certification Program) classifica a Belgian Single como uma interpretação belga de uma German Pils, enfatizando a alta atenuação e o caráter lupulado. No entanto, essa comparação pode ser exagerada, visto que a complexidade da levedura belga adiciona uma camada extra de sabor e aroma ao estilo.


Desafios na Classificação da Belgian Single

Apesar de seu perfil bem definido, a Belgian Single enfrenta desafios na sua categorização oficial. O BJCP descreve o estilo como fortemente condimentado e fenólico, mas essa definição pode não representar com precisão os exemplares mais autênticos encontrados na Bélgica.

Condimentado e Fenólicos: Brasil vs. Bélgica

Os exemplares produzidos na Bélgica são, na maioria das vezes, menos condimentados e fenólicos do que aqueles feitos no Brasil ou nos Estados Unidos. Isso acontece porque muitas receitas fora da Bélgica acabam exagerando nos fenóis e no dulçor residual, resultando em cervejas menos atenuadas e menos equilibradas.

Impacto do BJCP nos Concursos de Cerveja

Para quem deseja submeter uma Belgian Single em concursos de cerveja, é essencial adaptar a receita às diretrizes do BJCP. Algumas estratégias para obter pontuações mais altas incluem:

Aumentar o amargor dentro do limite superior do estilo.
Reforçar o caráter lupulado, sem perder o equilíbrio com a levedura.
Utilizar uma levedura belga clássica, evitando exageros nos fenóis.
Garantir alta atenuação, para evitar dulçor residual excessivo.


Como Produzir uma Belgian Single Autêntica?

Agora que entendemos o estilo, vamos às melhores práticas para produção da Belgian Single, seja em cervejarias comerciais ou em cervejeiros caseiros.

1️ Ingredientes Principais

Malte: A base da Belgian Single é Malte Pilsen belga, que tem um dulçor residual sutil em comparação com maltes Pilsen alemães ou brasileiros.
Lúpulos: Tradicionalmente, os belgas utilizam Saaz, Styrian Golding e Hallertau Mittelfrüh, que oferecem um amargor limpo e elegante.
Açúcar: Não é essencial, mas pode ser usado (até 5%) para aumentar a atenuação.
Levedura: As leveduras belgas são essenciais para o perfil do estilo. Algumas opções recomendadas incluem:


2️ Fermentação e Controle de Temperatura

O processo de fermentação belga segue um método chamado “Free Rise”, que consiste em inocular a levedura em temperatura mais baixa (18-20°C) e permitir que ela suba naturalmente até 24-29°C.

Comparação de fermentação entre mosteiros belgas:

  • Westvleteren: Inóculo a 20°C, sobe até 29°C
  • St. Bernardus: Inóculo a 20°C, sobe até 24°C
  • Westmalle: Inóculo a 18°C, sobe apenas até 20°C
    Achel: Inóculo a 17°C, sobe até 23°C

Essa técnica permite um controle refinado da produção de ésteres e fenóis, garantindo uma drinkability superior.


3️ Ajuste da Água

A água utilizada na produção da Belgian Single deve reforçar a maciez, sem exagerar na secura. Para isso, recomenda-se:

Cloreto (~100 ppm): Melhora a sensação de maciez.
Sulfato (moderado): Evitar excessos para não acentuar secura extrema.
Cálcio: Auxilia na clarificação e estabilidade da fermentação.


4️ Carbonatação e Envase

A Belgian Single exige uma carbonatação elevada (2,5 a 3,0 volumes de CO₂), mas isso pode gerar desafios no envase.

Métodos de Carbonatação:
1️⃣ Priming na garrafa (refermentação): Método belga tradicional, mas exige garrafas reforçadas.
2️⃣ Carbonatação forçada no Post-Mix: Alternativa moderna e segura, evitando riscos de explosão em garrafas frágeis.


Conclusão: O Equilíbrio Perfeito na Belgian Single

A Belgian Single é um estilo fascinante, que equilibra amargor, atenuação e complexidade sensorial. Embora sua classificação pelo BJCP tenha algumas imprecisões, entender a produção autêntica permite criar versões mais fiéis ao estilo original.

Dicas finais para acertar na Belgian Single:
✔ Mantenha a fermentação controlada com Free Rise.
✔ Use lúpulos nobres para amargor limpo e equilibrado.
Evite exageros nos fenóis e no dulçor residual.
✔ Ajuste a água para garantir maciez e equilíbrio.

Se você deseja aprofundar seus conhecimentos, o livro “Brew Like a Monk” continua sendo uma referência essencial para entender as técnicas belgas.

Agora é hora de brassar a sua própria Belgian Single!

#257 – Comentários honestos: Trapista Vleteren Ale

De Vleteren direto para nossos fermentadores

Com a parceria da Lamas Brewshop, da Hops Company e da Levteck, damos continuidade ao novo formato e vamos entender como essa levedura vinda da Bélgica aterrisou no Brasil e de quebra levou o coração do Henrique. Vamos falar sobre a Trapista Vleteren Ale da Levteck.

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#256 – Hype: Japanese Rice Lager

Da terra do sol nascente para hype norte-americano.

Com a parceria da Lamas Brewshop, da Hops Company e da Levteck, damos continuidade a nossa tentativa de entender proto estilos e dessa vez olhando para o continente norte-americano e olhando para um estilo feito para matar a sede. Vamos falar de Japanese Rice Lager!

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#254 – Starters, revisitado

Tá tudo certo, não gravamos um episódio duplicado

Com a parceria da Lamas Brewshop, da Hops Company e da Levteck, notamos que desde o episódio 12, muitas dúvidas existem sobre Starters, principalmente, não cobrimos no longínquo programa outros microorganismos como Brettanomyces e Lactobacillus. Resolvemos tudo isso hoje!

Tivemo um problema com a captação do áudio, pedimos desculpas pela nossa tosquice

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#253 – Conexão Cerveja Brasil: Natalia Cavalcante

Através do patrocínio do Sebrae e da realização da Abracerva, iniciamos a cobertura da Conexão Cerveja Brasil.

Nessa série de episódios vamos cobrir as etapas Nordeste e Norte do evento que tem edições em todas as regiões do Brasil.

Serão quatro episodios com:

Com a parceria da Hops Company, da Lamas Brewshop e da Levteck, vamos conversar um pouco sobre a trajetória da Natália Cavalcante da Cervejaria Godheim e como ele percebe o impacto das ações da Abracerva no mercado local.

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