Com 2.770 respostas coletadas em todos os estados do Brasil, o Censo da Cerveja Caseira Brasileira 2025, fruto de um esforço contínuo do Brassagem Forte, traz agora um retrato mais amplo e consistente da produção no país, revelando tendências técnicas, desafios e perfis de quem vive essa paixão diariamente.
E para mergulhar nos números e nas análises, fechando também com chave de ouro o ano de 2025, Henrique Boaventura recebe grandes parceiros do fazer e divulgar cervejas: Jamal Awadallak e Ludmyla Almeida. Não perca esse papo, nem os dados e os achados dessa pesquisa!
O Brassagem Forte conta com a parceria da Hops Company, da Levteck, da EZbrew e da Cerveja Stannis.
Quem faz cerveja em casa hoje, quanto custa e para onde caminha o hobby
O Censo da Cerveja Caseira Brasileira 2025 consolida o maior levantamento já realizado sobre o hobby no país! A pesquisa, idealizada e realizada por quem toca o Brassagem Forte, reuniu este ano 2.770 respostas válidas, com representação de todos os estados brasileiros, permitindo o vislumbre de um retrato técnico, confiável e comparável do cenário atual da produção caseira de cerveja no Brasil.
Além disso, os dados ajudam a compreender não apenas quem são os cervejeiros caseiros, mas também como produzem, quanto investem, quais estilos preferem e porque mantém — ou, porventura, abandonam —o hobby.
Como o censo foi construído e por que 2025 é um marco
O censo é a continuidade de uma iniciativa que começou em 2024, ainda antes da fusão entre o Brassagem Forte e o Surra de Lúpulo. Naquele primeiro momento, fatores externos, como enchentes na região Sul e o menor alcance da divulgação, limitaram a amostra obtida. Em 2025, entretanto, o questionário foi refinado e a mobilização ganhou escala nacional.
Embora não tenha havido patrocínio financeiro, houve forte engajamento comunitário na condução da pesquisa. Criadores de conteúdo, escolas, associações regionais e a Acerva nacional impulsionaram a divulgação, o que, por consequência, ampliou significativamente o número de respostas. Como resultado, a pesquisa alcançou todos os estados e bateu mil respostas nas primeiras 24 horas!
O perfil do cervejeiro caseiro brasileiro em 2025
Os dados confirmam um perfil relativamente estável. O universo pesquisado é majoritariamente masculino (96,9%), embora a participação feminina tenha crescido para 3,1%, o que representa um avanço relevante em números absolutos.
A faixa etária predominante está entre 40 e 49 anos, seguida pelos grupos de 30–39 e 50–59 anos. Ou seja, trata-se de um hobby praticado, sobretudo, por adultos em fase de consolidação profissional e familiar.
Do ponto de vista educacional, o nível é elevado: cerca de 73% possuem ensino superior completo ou pós-graduação, com forte presença de profissionais de engenharia, tecnologia da informação e áreas técnicas. Em termos raciais, 76,4% se declaram brancos, dados que se relacionam também com um recorte social, ainda pouco diverso.
Geograficamente, Sul e Sudeste concentram mais de 80% dos respondentes. No entanto, quando se observa a densidade per capita, Santa Catarina lidera, seguida por Rio Grande do Sul e Paraná, confirmando a força histórica da cultura cervejeira na região Sul.
Renda, custo por litro e barreiras de entrada
O censo deixa claro que a cerveja caseira segue sendo um hobby elitizado. A maioria dos respondentes declara renda mensal acima de R$ 5.000, com grande concentração acima de R$ 10.000. Isso se reflete na capacidade de investimento inicial e na manutenção da prática.
O custo médio nacional de produção ficou em R$ 8,79 por litro, considerando insumos diretos. Embora competitivo frente a cervejas especiais comerciais, esse valor não inclui equipamentos, energia ou água.
Na prática, um iniciante costuma investir entre R$ 1.000 e R$ 1.200 em um setup básico, com panela, fermentador e alguma forma de controle de temperatura. É possível começar com menos, utilizando soluções improvisadas, porém isso exige conhecimento técnico e aumenta o risco de resultados inconsistentes.
Por que as pessoas abandonam o hobby
Um dos achados mais importantes do censo diz respeito à desistência. Entre quem parou de produzir, 57–58% aponta falta de tempo e/ou espaço como principal motivo. Em contraste, apenas 18% citam questões financeiras.
Isso indica que o maior desafio não é o custo recorrente, mas sim a dificuldade de conciliar um hobby que exige algumas horas contínuas, planejamento e espaço físico com rotinas cada vez mais apertadas, especialmente na faixa etária predominante da amostra.
O episódio também traz uma reflexão sobre o conflito entre hobbies analógicos e a economia da atenção digital. Estudos de uso de tela mostram Brasileiros passando cerca de quatro horas por dia no celular. É o tempo suficiente para uma brassagem completa, do início à limpeza.
A provocação é direta: “se você abrir o relatório de tempo de tela do seu celular, será que realmente não tem tempo para fazer cerveja, ou escolheu investir esse tempo em doomscrolling, redes sociais e outras formas de entretenimento?”
Em contraste, para muitas pessoas, sobretudo desde a pandemia de COVID-19, a produção caseira de cerveja, pão ou vegetais fermentados é justamente a maneira de fugir do digital e criar algo físico, palpável, com significado mais duradouro.
Produção em apartamento, equipamentos e sociabilidade
Cerca de 30% dos respondentes produz cerveja em apartamento, o que demonstra a adaptação do hobby a espaços reduzidos. Além disso, a migração para setups mais compactos, como BIAB e sistemas all-in-one, reduziu tempo, volume de equipamentos e esforço de limpeza.
Outro ponto interessante é que, embora 80% brassem sozinhos, o hobby não é socialmente isolado. A sociabilidade migrou da brassagem para a degustação, com confrarias, encontros regionais e eventos que reúnem centenas ou até milhares de cervejeiros caseiros.
Outras bebidas fermentadas: uma surpresa negativa
Talvez um dos resultados mais surpreendentes do censo tenha sido o retorno à pergunta “Você faz alguma outra bebida fermentada?”. Enquanto a expectativa era encontrar um público curioso, que transitasse entre cerveja, sidra, hidromel e destilados artesanais, a realidade foi outra: mais de 2.000 pessoas responderam que não produzem nenhuma outra bebida além de cerveja.
Apesar da aparente simplicidade técnica e processual de sidras e hidroméis, por exemplo, outros fatores no Brasil devem ter pesado para que essa transição não se concretizasse, como custos de matéria-prima e a falta de uma cultura, inclusive coletiva, pertinente ao fazer e ao consumir essas bebidas.
Na prática, a maioria dos cervejeiros parece manter o foco exclusivamente na cerveja, seja pela paixão específica pela categoria, seja pela sensação de já ter mais desafios do que o tempo permite dentro de um único hobby.
Estilos, BJCP e maturidade do mercado
IPA e APA seguem como estilos preferidos. No entanto, há crescimento consistente da produção de lagers, especialmente entre cervejeiros mais experientes. Essas cervejas, embora aparentemente simples, exigem maior controle de processo e deixam menos margem para erros.
Outro dado relevante é que cerca de 10% dos respondentes nunca ouviu falar do BJCP, mesmo sendo a principal referência de estilos. Isso aponta para lacunas de difusão de conhecimento técnico, especialmente entre praticantes que produzem fora de competições ou ambientes mais formais de estudo.
O que os dados indicam sobre o presente e o futuro do hobby
O Censo da Cerveja Caseira Brasileira 2025 mostra um hobby maduro, técnico e consolidado, porém com desafios claros. A base é experiente, bem estruturada, mas envelhecida em termos de entrada de novos praticantes. Além disso, tempo e espaço se mostram obstáculos mais relevantes que dinheiro.
Por outro lado, os dados também indicam caminhos concretos: educação focada em setups enxutos, processos mais rápidos, maior divulgação de práticas acessíveis e fortalecimento das comunidades.
Você pode conferir tudo acessando o link ou baixando o arquivo do Censo:
Com pesquisas recorrentes, o Censo tende a se tornar uma ferramenta estratégica para entender tendências, corrigir gargalos e manter a cerveja caseira viva, relevante e tecnicamente cada vez melhor no Brasil.
É para isso que o Brassagem Forte existe. Nos vemos no ano que vem. Feliz 2026!

