De Caxias à Flórida: a jornada de Guilherme Zaniol no homebrewing e na cerveja artesanal
Neste episódio do Brassagem Forte, Henrique Boaventura conversa com Guilherme Zaniol, cervejeiro caseiro desde 2010. Zaniol compartilha sua trajetória no homebrewing, desde os primeiros passos em Caxias do Sul até seu retorno à produção nos Estados Unidos, analisando insumos, equipamentos, custos e diferenças culturais entre Brasil e EUA.
Mais um papo incrível que conta com a parceria da Lamas Brewshop, da Hops Company, da Levteck e da Cerveja Stannis.
Primeiros passos no homebrewing no Brasil
O interesse de Zaniol pela cerveja artesanal começou em 2010, quando descobriu rótulos da Schneider Weiss e a Aventinus Eisbock em um pequeno mercado. Encantado com o potencial dos estilos, decidiu tentar produzir sua própria cerveja caseira.
Sem acesso a conteúdo digital, recorreu a um manual impresso de 26 páginas e improvisou equipamentos. O resultado foi uma cerveja considerada ruim, mas que o conectou à Acerva Gaúcha, onde recebeu feedback construtivo e iniciou sua jornada no associativismo cervejeiro.
O papel das associações e da comunidade cervejeira
Após algumas experiências iniciais, Zaniol fez cursos técnicos e ajudou a fundar a Cerva Serra, em Caxias do Sul, uma das associações de homebrewers mais organizadas do Brasil. Assim, o ambiente colaborativo permitiu aprendizado prático, desenvolvimento de receitas e acesso a insumos de qualidade.
A experiência de produzir cerveja nos Estados Unidos
Durante seu MBA em Nova York, Zaniol chegou a cogitar abandonar o hobby, já que a cena local oferecia uma vasta gama de cervejas de altíssimo nível. Porém, ao se mudar para a Flórida, encontrou cervejarias inconsistentes e insumos mal armazenados, o que o motivou a voltar à produção própria.
Insumos e equipamentos: comparação Brasil x EUA
- Lúpulo: variedade maior no Brasil para perfis continentais; nos EUA predomina o americano.
- Levedura: grande diversidade nos EUA (White Labs, Wyeast, Ômega), mas problemas de transporte no calor.
- Malte: maltarias como Weyermann, Crisp e Viking disponíveis com preços semelhantes.
- Equipamentos: setups automatizados como Grainfather são comuns e acessíveis, reduzindo tempo de produção de 10 para 4 horas.
Água, energia e custos de produção
Na Flórida, Zaniol usa água de osmose reversa para ter maior controle do perfil da cerveja. Os custos energéticos são compensados por placas solares residenciais, permitindo produção estável sem surpresas na conta de luz.
Clubes de homebrewers: Brasil x EUA
Enquanto no Brasil predominam associações estaduais (como as acervas), nos EUA os clubes são municipais e descentralizados. Exemplos incluem o MESH em Miami e o SASC, próximo à NASA.
Os concursos regionais, organizados a cada 45–60 dias, chegam a 400 amostras e esgotam rapidamente. Diferente do Brasil, a presença de juízes BJCP é muito maior, garantindo avaliações técnicas consistentes.
Estilos de cerveja mais produzidos e concursos
Na cena norte-americana atual, predominam:
- lagers
- cervejas belgas
- wild ales
- Grodziskie
Estilos como Hazy IPA e Double IPA, populares no mercado comercial, perdem espaço entre os homebrewers.
Custos e acessibilidade no homebrewing
- Custo médio por litro: 2,50 a 4 dólares (30% mais barato que no Brasil).
- Cerveja comercial de qualidade: cerca de 9–10 dólares por litro.
- Motivação principal: qualidade, controle de insumos e prazer de compartilhar com amigos, não apenas economia.
O futuro da cerveja caseira no Brasil e no mundo
A jornada de Guilherme Zaniol mostra que, hoje, não há barreiras técnicas ou de insumos entre Brasil e Estados Unidos. O Brasil se equiparou em qualidade de cerveja artesanal, com maltarias, laboratórios e fornecedores locais de alto nível.
O que permanece como diferencial é a comunidade cervejeira e o espírito colaborativo dos clubes e associações. Seja em Caxias do Sul, em Miami ou em qualquer lugar do mundo, a essência do homebrewing está em compartilhar conhecimento e manter viva a paixão pela cerveja feita em casa.