#281 – Dia de Julgamento: Blonde Ale

Se você quer saber como se avalia uma cerveja artesanal de forma técnica, este conteúdo é para você! Neste episódio especial do Brassagem Forte, Henrique Boaventura e Gabriela Lando, a Química Cervejeira, realizam a primeira edição do Dia do Julgamento, avaliando, segundo os critérios do BJCP, uma Blonde Ale caseira enviada pelo Taylor, membro da Cerva Serra – Cervejeiros da Serra Gaúcha.

Com a parceria da Lamas Brewshop, da Hops Company, da Levteck e da Cerveja Stannis, acompanhe a avaliação completa da Blonde Ale, entenda os pontos fortes, os erros, os acertos e, principalmente, descubra como melhorar suas próprias brassagens.

O estilo Blonde Ale

A Blonde Ale é uma cerveja de origem americana, de alta fermentação, leve e com alta drinkabilidade. Seu perfil sensorial é limpo, maltado, com baixo amargor e sutis notas de lúpulo floral, frutado ou herbal. Apresenta corpo médio-baixo, final seco e não deve ter sabores agressivos.

Ideal para quem quer uma cerveja fácil de beber, mas sem abrir mão de equilíbrio e qualidade sensorial.

Ficha Técnica da Produção

  • Estilo: Blonde Ale (BJCP 18A)
  • Malte: 100% Pilsen (Agrária)
  • Lúpulo: Brewers Gold (fresco, colhido no dia)
  • Levedura: Safale US-05 (3ª geração)
  • Água: Água de poço, sem análise prévia
  • Adições de lúpulo:
    • 100g na fervura (60 min.)
    • 100g no whirlpool (flameout)

A cerveja foi produzida no CEAB (Centro Estadual de Diagnóstico e Pesquisa em Alimentos e Bebidas) em Caxias do Sul, utilizando lúpulo fresco cultivado localmente, sem análises laboratoriais sobre alfácidos ou perfil da água.

Análise sensorial completa da Blonde Ale

Aroma

  • Percepções:
    • Malte de baixa intensidade (pão, biscoito, cereal)
    • Leve dulçor (caramelo e mel), sugerindo início de oxidação
    • Lúpulo floral e frutado (pêssego, maçã) em baixa intensidade
    • Esterificação perceptível, gerando notas de frutas amarelas e cítricas
  • Problemas: Aroma não completamente limpo, leve oxidação
  • Nota: 7/12

Aparência

  • Percepções:
    • Cor amarelo palha a dourado claro
    • Límpida, porém não cristalina (leve turbidez)
    • Espuma branca, densa, de ótima formação e retenção, com aspecto cremoso
  • Nota: 3/3

Sabor

  • Percepções:
    • Malte presente (pão, biscoito, cereal) com leve dulçor
    • Lúpulo floral e herbal em baixa intensidade
    • Frutado lembrando drupas (pêssego, damasco)
    • Amargor baixo, final seco
    • Leve acidez acompanhada de notas de oxidação (caramelo e mel)
  • Nota: 11/20

Sensação na boca

  • Percepções:
    • Corpo médio-baixo a baixo
    • Carbonatação média-alta, conferindo vivacidade
    • Sem adstringência, sem aquecimento alcoólico
    • Secura perceptível, o que impacta na cremosidade e na maciez
  • Notas:
    • Gabriela: 4/5 (descontou pela falta de cremosidade)
    • Henrique: 5/5

Impressão geral

  • Conclusão:
    Cerveja honesta, dentro do estilo, mas afetada por problemas técnicos como leve oxidação e acidez inesperada. A secura excessiva reduz um pouco a drinkabilidade.
  • Sugestões:
    • Analisar e ajustar o perfil da água (evitar uso de água não tratada)
    • Minimizar exposição ao oxigênio após fermentação e no envase
    • Melhorar relação malte/água para aumentar o corpo
    • Revisar o uso de lúpulo fresco e sua influência no perfil sensorial
  • Notas:
    • Gabriela: 6/10
    • Henrique: 6/10

Pontuação Final

  • Gabriela: 30 pontos
  • Henrique: 32 pontos

Classificação BJCP: Muito boa – dentro do estilo, mas com algumas falhas perceptíveis.

Bastidores da produção: desafios e aprendizados

  • A cerveja foi feita em um evento coletivo, com uso de lúpulo fresco da plantação experimental do CEAB.
  • A água utilizada era de poço, sem análise, ajustada empiricamente com ácido lático na brassagem.
  • Levedura Safale US-05 em terceira geração, sem cultivo prévio, o que pode ter contribuído para a esterificação excessiva.
  • O lúpulo Brewers Gold foi colhido no dia, sem parâmetros precisos de alfácido, o que dificultou o controle do amargor.
  • A leve acidez pode ter origem na acidificação mal calculada da água ou em fermentação com micro-organismos indesejados.

Considerações finais dos juízes:

Apesar dos desafios, a cerveja ficou boa, bebível e dentro do estilo. O feedback técnico permite que Taylor melhore sua próxima brassagem, especialmente nos controles de água, fermentação e oxigênio.

Conclusão: como avaliar cervejas e evoluir como cervejeiro caseiro

O Dia do Julgamento não se pretende como mero exercício de análise de amostras. É uma aula sobre como avaliar cerveja artesanal, entender seus defeitos e acertos, e usar o feedback como ferramenta de evolução.

Taylor, com quase 10 anos de experiência como cervejeiro caseiro, mostra que, mesmo depois de muita prática, cada brassagem traz novos aprendizados — especialmente quando lidamos com variáveis pouco controladas como água desconhecida ou lúpulo fresco.

✅ O aprendizado aqui vale para qualquer cervejeiro caseiro: controle rigoroso da água, da fermentação e da oxidação são fundamentais para transformar uma boa cerveja em uma excelente cerveja.

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