#287 – LODO: cerveja com baixo teor de oxigênio dissolvido

LODO

LODO na cerveja: técnicas para lagers claras com mais frescor e estabilidade

Você sabe o que é LODO na cerveja? A sigla vem do inglês Low Dissolved Oxygen — ou baixo oxigênio dissolvido — e se refere a um conjunto de práticas que visam reduzir ao máximo o contato da cerveja com oxigênio durante o processo de produção.

Neste episódio do Brassagem Forte, Henrique Boaventura conversa com o mestre cervejeiro Marcus Dapper sobre como aplicar essas técnicas para melhorar o frescor, estabilidade sensorial e shelf life das cervejas lager claras.

Não perca esse papo incrível, que conta com a parceria da Lamas Brewshop, da Hops Company, da Levteck e da Cerveja Stannis.

Origem e filosofia do LODO na cerveja

Muito antes de existirem oxímetros precisos, cervejarias alemãs já aplicavam práticas que limitavam o oxigênio dissolvido no processo de produção. Mesmo sem saber, adotavam procedimentos que hoje são a base do LODO.

A Lei da Pureza Cervejeira alemã (Reinheitsgebot), apesar de limitar os ingredientes, impulsionou o desenvolvimento técnico. Isso criou uma cultura de precisão que hoje influencia desde equipamentos até as boas práticas de fabricação no mundo todo.

LODO serve para todos os estilos?

Segundo Dapper, LODO só faz sentido em lagers claras e com até 5% de teor alcoólico, como Helles, German Pils, Oktoberfest ou Vienna Lager. Estilos mais escuros ou com maior carga de maltes especiais têm outras características sensoriais nas quais o oxigênio exerce menor influência.

Técnicas LODO: como aplicar na sua cerveja

A prática do LODO é uma soma de pequenas ações que, juntas, garantem uma cerveja mais estável e fresca. Não se trata de adotar uma técnica isolada, mas sim um processo integrado:

  • Ferver a água de mostura previamente para expulsar oxigênio;
  • Moer o malte imediatamente antes do uso;
  • Evitar agitação excessiva na mostura;
  • Reduzir a carga térmica na fervura;
  • Resfriamento e envase sem contato com o ar;
  • Utilizar levedura saudável ou maior pitch para evitar oxigenação do mosto frio.

O impacto do oxigênio na parte quente do processo

A parte quente da produção (mostura e fervura) é crítica na formação de precursores da oxidação, como o trans-2-nonenal (notas de papelão). Assim, o controle de oxigênio e de temperatura da fervura são essenciais para minimizar a liberação de compostos que afetam o shelf life da cerveja.

Medição de oxigênio: limite técnico para o caseiro

Na parte fria, grandes cervejarias já conseguem controlar níveis de oxigênio na faixa de 2 a 8 ppb, graças a equipamentos de alta precisão. Para o cervejeiro caseiro ou artesanal, a medição da parte quente ainda é inviável, mas adotar práticas como menor tempo de fervura com maior eficiência térmica já ajuda a evitar a formação de precursores.

Fervura, DMS e desempenho enzimático

  • Para eliminar DMS, 20–25 minutos de fervura vigorosa são suficientes.
  • A coagulação proteica e isomerização do lúpulo exigem fervuras mais longas (40–45 min).
  • A agitação controlada da mostura acelera reações enzimáticas e pode permitir tempos mais curtos sem comprometer a conversão do amido.

Fermentação e oxigênio: mito ou necessidade?

É possível fermentar com mínima oxigenação do mosto, principalmente usando leveduras secas bem manejadas ou fazendo um pitch maior. A velocidade com que a levedura consome oxigênio na parte fria é alta o suficiente para minimizar riscos de oxidação sensorial.

O que vale a pena fazer no modo caseiro?

Para quem faz cerveja em casa, Dapper recomenda:

✅ Focar na qualidade da fervura;
✅ Reduzir a carga térmica;
✅ Usar malte fresco;
✅ Minimizar a exposição ao ar na fermentação e envase;
❌ Evitar exageros como moagem com CO₂ ou inertização de panela na mostura.

Conclusão: LODO faz sentido?

Sim! Para Marcus Dapper, com décadas de experiência em grandes cervejarias, LODO é uma abordagem técnica legítima e eficaz para produzir cervejas lager com frescor e estabilidade sensorial superiores. Mas é preciso aplicá-lo com equilíbrio e conhecimento — e não como uma obsessão por eliminar cada ppm de oxigênio.

“Fazer cerveja excelente é uma soma de detalhes. E LODO é o detalhe que faz a diferença na lager clara”, diz Dapper.

#286 – Cerveja dentro do orçamento

Cerveja dentro do orçamento

Como fazer cerveja caseira de baixo custo: técnicas, insumos e equipamentos

Fazer cerveja em casa pode parecer um luxo, mas, como diria Leandro Oliveira: “não fazer cerveja é muito caro”.

Neste episódio do Brassagem Forte, Leandro, do canal Cerveja Fácil, e Henrique Boaventura mostram que é possível produzir cerveja artesanal de qualidade sem gastar demais.

Com a parceria da Lamas Brewshop, da Hops Company, da Levteck e da Cerveja Stannis, aprenda técnicas, dicas e receitas para turbinar sua produção caseira — com o orçamento sob controle.

O mito da cerveja caseira barata

Durante anos, ouviu-se que fazer cerveja em casa era mais barato do que comprar. E é — se você souber como. Embora existam custos implícitos como gás, água, energia e tempo, o grande segredo está em como planejar, otimizar insumos e evitar armadilhas.

O que encarece a produção caseira?

Investir em equipamentos sofisticados logo de cara pode transformar seu hobby em um ralo de dinheiro. Muitos iniciantes acreditam que a qualidade está no inox, quando, na verdade, ela está no controle dos processos.

Equipamentos Essenciais para Fazer Cerveja Gastando Pouco

Segundo Leandro, o setup básico para fazer cerveja de baixo custo inclui:

  • Geladeira com controlador de temperatura
  • Panela com cesto ou BIAB
  • Fermentador (bombona ou balde)
  • Barril e cilindro de CO₂
  • Fogão ou fogareiro
  • Densímetro

Com isso, você já consegue fazer cervejas incríveis — sem gastar uma fortuna.

Leveduras e lúpulos: como criar receitas de cerveja caseira mais baratas

Evite complexidade desnecessária! Foque em receitas com menos insumos, controle de temperatura e reaproveitamento de levedura. Um único pacote pode render cinco ou mais levas, economizando até R$20 por receita.

No quesito lúpulo, troque o hype por eficiência. Economize sem perder os aromas desejados. Então use:

  • Magnum para amargor
  • Whirlpool e dry hopping para extração aromática
  • Lúpulo brasileiro fresco, que pode render 30% mais aroma com menos quantidade

O valor dos adjuntos na redução de custos

Milho em flocos é um aliado poderoso! Ele reduz custo e mantém o corpo, quando combinado com maltes especiais e rampas altas de mostura (70–72 °C). Com conhecimento técnico, é possível utilisar até 70% de adjuntos e fazer cervejas saborosas, com excelente drinkability.

Estilos ideais para produção econômica

  • Ordinary Bitter (até R$1,89/litro)
  • Helles com milho
  • Vienna Lager contemporânea
  • Session IPAs
  • Pale Ales com dry hopping moderado

Cervejas com teor alcoólico reduzido também consomem menos insumo — e entregam muito.

Dicas de ouro para comprar insumos mais baratos

  • Compre em grupo e divida o frete
  • Faça parcerias com cervejarias locais
  • Aproveite insumos descartados, como lama de levedura
  • Evite compras fracionadas — compre por saco, sempre que possível

Conclusão: planejamento é o segredo da boa e barata cerveja caseira

Produzir cerveja de baixo custo não é sinônimo de cerveja ruim. Com técnica, planejamento e escolhas inteligentes, é possível criar cervejas frescas, aromáticas e complexas por menos de R$3 o litro. E mais do que isso: é libertador poder dizer que “não fazer cerveja é que sai caro”.

#281 – Dia de Julgamento: Blonde Ale

Dia de Julgamento - Blonde Ale

Se você quer saber como se avalia uma cerveja artesanal de forma técnica, este conteúdo é para você! Neste episódio especial do Brassagem Forte, Henrique Boaventura e Gabriela Lando, a Química Cervejeira, realizam a primeira edição do Dia do Julgamento, avaliando, segundo os critérios do BJCP, uma Blonde Ale caseira enviada pelo Taylor, membro da Cerva Serra – Cervejeiros da Serra Gaúcha.

Com a parceria da Lamas Brewshop, da Hops Company, da Levteck e da Cerveja Stannis, acompanhe a avaliação completa da Blonde Ale, entenda os pontos fortes, os erros, os acertos e, principalmente, descubra como melhorar suas próprias brassagens.

O estilo Blonde Ale

A Blonde Ale é uma cerveja de origem americana, de alta fermentação, leve e com alta drinkabilidade. Seu perfil sensorial é limpo, maltado, com baixo amargor e sutis notas de lúpulo floral, frutado ou herbal. Apresenta corpo médio-baixo, final seco e não deve ter sabores agressivos.

Ideal para quem quer uma cerveja fácil de beber, mas sem abrir mão de equilíbrio e qualidade sensorial.

Ficha Técnica da Produção

  • Estilo: Blonde Ale (BJCP 18A)
  • Malte: 100% Pilsen (Agrária)
  • Lúpulo: Brewers Gold (fresco, colhido no dia)
  • Levedura: Safale US-05 (3ª geração)
  • Água: Água de poço, sem análise prévia
  • Adições de lúpulo:
    • 100g na fervura (60 min.)
    • 100g no whirlpool (flameout)

A cerveja foi produzida no CEAB (Centro Estadual de Diagnóstico e Pesquisa em Alimentos e Bebidas) em Caxias do Sul, utilizando lúpulo fresco cultivado localmente, sem análises laboratoriais sobre alfácidos ou perfil da água.

Análise sensorial completa da Blonde Ale

Aroma

  • Percepções:
    • Malte de baixa intensidade (pão, biscoito, cereal)
    • Leve dulçor (caramelo e mel), sugerindo início de oxidação
    • Lúpulo floral e frutado (pêssego, maçã) em baixa intensidade
    • Esterificação perceptível, gerando notas de frutas amarelas e cítricas
  • Problemas: Aroma não completamente limpo, leve oxidação
  • Nota: 7/12

Aparência

  • Percepções:
    • Cor amarelo palha a dourado claro
    • Límpida, porém não cristalina (leve turbidez)
    • Espuma branca, densa, de ótima formação e retenção, com aspecto cremoso
  • Nota: 3/3

Sabor

  • Percepções:
    • Malte presente (pão, biscoito, cereal) com leve dulçor
    • Lúpulo floral e herbal em baixa intensidade
    • Frutado lembrando drupas (pêssego, damasco)
    • Amargor baixo, final seco
    • Leve acidez acompanhada de notas de oxidação (caramelo e mel)
  • Nota: 11/20

Sensação na boca

  • Percepções:
    • Corpo médio-baixo a baixo
    • Carbonatação média-alta, conferindo vivacidade
    • Sem adstringência, sem aquecimento alcoólico
    • Secura perceptível, o que impacta na cremosidade e na maciez
  • Notas:
    • Gabriela: 4/5 (descontou pela falta de cremosidade)
    • Henrique: 5/5

Impressão geral

  • Conclusão:
    Cerveja honesta, dentro do estilo, mas afetada por problemas técnicos como leve oxidação e acidez inesperada. A secura excessiva reduz um pouco a drinkabilidade.
  • Sugestões:
    • Analisar e ajustar o perfil da água (evitar uso de água não tratada)
    • Minimizar exposição ao oxigênio após fermentação e no envase
    • Melhorar relação malte/água para aumentar o corpo
    • Revisar o uso de lúpulo fresco e sua influência no perfil sensorial
  • Notas:
    • Gabriela: 6/10
    • Henrique: 6/10

Pontuação Final

  • Gabriela: 30 pontos
  • Henrique: 32 pontos

Classificação BJCP: Muito boa – dentro do estilo, mas com algumas falhas perceptíveis.

Bastidores da produção: desafios e aprendizados

  • A cerveja foi feita em um evento coletivo, com uso de lúpulo fresco da plantação experimental do CEAB.
  • A água utilizada era de poço, sem análise, ajustada empiricamente com ácido lático na brassagem.
  • Levedura Safale US-05 em terceira geração, sem cultivo prévio, o que pode ter contribuído para a esterificação excessiva.
  • O lúpulo Brewers Gold foi colhido no dia, sem parâmetros precisos de alfácido, o que dificultou o controle do amargor.
  • A leve acidez pode ter origem na acidificação mal calculada da água ou em fermentação com micro-organismos indesejados.

Considerações finais dos juízes:

Apesar dos desafios, a cerveja ficou boa, bebível e dentro do estilo. O feedback técnico permite que Taylor melhore sua próxima brassagem, especialmente nos controles de água, fermentação e oxigênio.

Conclusão: como avaliar cervejas e evoluir como cervejeiro caseiro

O Dia do Julgamento não se pretende como mero exercício de análise de amostras. É uma aula sobre como avaliar cerveja artesanal, entender seus defeitos e acertos, e usar o feedback como ferramenta de evolução.

Taylor, com quase 10 anos de experiência como cervejeiro caseiro, mostra que, mesmo depois de muita prática, cada brassagem traz novos aprendizados — especialmente quando lidamos com variáveis pouco controladas como água desconhecida ou lúpulo fresco.

✅ O aprendizado aqui vale para qualquer cervejeiro caseiro: controle rigoroso da água, da fermentação e da oxidação são fundamentais para transformar uma boa cerveja em uma excelente cerveja.