#270 – Brassando com Estilo: Old Ale

Capa - Old Ale

Old Ale: história, características e receita completa para produzir e envelhecer sua cerveja inglesa

Com a parceria da Lamas Brewshop, da Hops Company, da Levteck e da Cerveja Stannis, neste epísódio, juntamente com Jamal Awadallak, exploramos os detalhes que tornam esse estilo único e como obter os melhores resultados ao produzi-lo.

O que é Old Ale? História e origem do estilo inglês

O termo Old Ale é utilizado há séculos na Inglaterra para descrever cervejas destinadas à guarda e envelhecimento. Diferente das Mild Ales, que são cervejas jovens e frescas, as Old Ales são feitas para passar por uma longa maturação, desenvolvendo características únicas ao longo do tempo.

⏳ Historicamente, muitas dessas cervejas apresentavam um “K” ou “X” no nome, indicando sua intensidade ou tempo de guarda, uma tradição bem detalhada no livro A História das Cervejas Britânicas, de Martyn Cornell, recentemente traduzido para o português e publicado pela Editora Krater.

Evolução histórica: Mild Ale, Stock Ale e Barley Wine

A trajetória da Old Ale acompanha a própria história da escola cervejeira inglesa. Termos como Stock Ale, Barley Wine e Burton Ale eram, antigamente, utilizados quase de forma intercambiável. Por isso, autores como o historiador Ronald Pattinson reforçam que, no passado, não havia uma distinção clara entre eles.

Hoje, o estilo está definido no BJCP (Beer Judge Certification Program) como 17B Old Ale, mas com uma ampla variação entre exemplares:

  • Cervejas de barril (cask ales): teor alcoólico mais baixo (4.5% a 5%), não envelhecidas, semelhantes às Milds.
  • Versões envelhecidas: teor alcoólico entre 6% e 8%, com características de maturação prolongada.

Essa diversidade histórica reflete as mudanças econômicas, tecnológicas e culturais da Grã-Bretanha, como crises de guerra e avanços na malteação, que influenciaram diretamente a composição das cervejas.

Perfil sensorial da Old Ale segundo o BJCP

Aromas

O aroma é dominado pelo malte adocicado e ésteres frutados, frequentemente com uma mistura complexa de:

  • Frutas secas
  • Caramelo
  • Melado
  • Toffee
  • Notas vínicas (xerês, porto)
  • Leves traços de oxidação

    ✳ Aroma de lúpulo geralmente não está presente.

Aparência

  • Cor variando do âmbar profundo ao marrom escuro avermelhado.
  • Muitas vezes escurecida ainda mais pela oxidação e idade.
  • Límpida, mas pode ser quase opaca.
  • Colarinho de baixo a moderado, cor creme a castanho claro.

Sabor

  • Maltado de médio a alto, com nozes, caramelo, melado.
  • Chocolate leve ou malte torrado (opcional).
  • Equilíbrio geralmente adocicado, mas pode variar.
  • Ésteres frutados (frutas secas, vínicos).
  • Oxidação positiva com notas de vinho do Porto.
  • Força alcoólica evidente.

Corpo e carbonatação

  • Corpo de médio a cheio, denso.
  • Carbonatação baixa a moderada.
  • Leve acidez e taninos opcionais.

Diferenças entre Old Ale e Barley Wine inglesa

A fronteira entre a Old Ale e a English Barley Wine é bastante tênue:

  • ABV acima de 7%: tende a ser classificada como Barley Wine.
  • Com ênfase maior nas qualidades provenientes do envelhecimento (oxidação positiva, notas vínicas): Old Ale.

Ingredientes essenciais para uma autêntica Old Ale

Malte base: por que usar Maris Otter?

O malte Maris Otter Pale Ale é preferido por seu perfil característico:

  • Notas de biscoito champanhe.
  • Maior complexidade e clarificação.
  • Utiliza-se de 85% a 90% do grist.

Maltes especiais e caramelo: construindo complexidade

  • Caramelo médio (60°L): toffee e bala de caramelo.
  • Caramelo escuro (120°L): frutas escuras e leve azedinho.
  • Malte Chocolate: ajuste de cor e notas amendoadas.
  • Caramelo inglês nº 3: preparado artesanalmente para características históricas.

Adjuntos e açúcares: como equilibrar corpo e dulçor

  • Açúcares simples (açúcar de cana ou invertido) ajudam a secar o corpo e evitar dulçor excessivo.
  • Milho e trigo eram usados historicamente, mas são dispensáveis nas versões modernas.

Processo de brassagem da Old Ale: Mostura e controle de FG

  • Mostura simples por infusão única a 66-67ºC.
  • Controlar temperatura para evitar FG muito alta (limite máximo: 1022).

Lúpulo inglês: amargor estratégico e envelhecimento

  • Uso de lúpulos ingleses como Target.
  • Ajustar IBUs:
    • 50 IBUs para envelhecimento prolongado.
    • 30-35 IBUs para consumo jovem.

Oxidação controlada: vilã ou aliada na cerveja envelhecida?

A oxidação controlada é bem-vinda, contribuindo para:

  • Notas de frutas secas, vinho do Porto, madeira.
  • Cuidado com oxidação excessiva (principalmente em barricas pequenas).

Leveduras ideais para Old Ale: perfil inglês e técnicas

Leveduras recomendadas:

  • Secas: Lallemand London, Fermentis S-04, Nottingham.
  • Líquidas: Resident Ale, EB Fermo Whale.

Dicas:

➡ Usar alta taxa de inoculação (3 pacotes secos para 20L ou propagação).
➡ Temperatura: 17-21ºC.
➡ Opcional: Brettanomyces para perfil histórico.
➡ Suplementação: Zinco e oxigenação.

Perfil de água para Old Ale: simplicidade e equilíbrio

Sugestão:

ComponenteValor (ppm)
Cálcio100
Sulfato100
Cloreto100

Evitar excesso de cloreto para não deixar a cerveja enjoativa.

Carbonatação e guarda: como envelhecer sua Old Ale corretamente

  • Carbonatação: 2.3 a 2.5 volumes de CO₂.
  • Evitar alta carbonatação para preservar sensorial.
  • Envelhecimento:
    • 6 meses mínimo.
    • Temperatura ideal: 18-20ºC.
    • Priming ajuda na proteção contra oxidação.
    • Garrafas menores (300-375ml) facilitam consumo gradual.

Receita completa de Old Ale moderna com técnicas históricas

Volume: 20 litros
OG: 1.078
FG: 1.020
ABV: 7,6%
IBU: 50 (para envelhecimento) ou 35 (fresco)
Cor: 40 EBC
Eficiência: 60%
Fervura: 90 minutos

Maltes:

  • 6 kg Maris Otter Pale Ale
  • 300g Caramelo 120°L
  • 300g Caramelo 60°L
  • 100g Malte Chocolate
  • 430g Caramelo Inglês nº 3 (preparado artesanalmente)

Lúpulo:

  • 45g Target (11% AA) com 90 minutos de fervura.

Perfil de água:

  • 6,3g Cloreto de Cálcio
  • 2,2g Sulfato de Magnésio
  • 6,4g Sulfato de Cálcio

Levedura:

  • AEB Fermoale Whale ou equivalente
  • Opcional: Brettanomyces bruxellensis (0,1 pacote)

Processo:

  1. Mostura simples a 67ºC por 60 minutos.
  2. Mash out a 78ºC.
  3. Inoculação a 15ºC, fermentação principal a 17ºC.
  4. Descanso de diacetil por 2 dias.
  5. Clarificação e maturação por 14 dias.
  6. Envelhecimento mínimo: 6 meses.

Conclusão: produza sua Old Ale com confiança

A Old Ale é um dos estilos mais ricos e fascinantes da escola inglesa, unindo tradição, complexidade e a possibilidade única de evolução com o tempo. Dominar sua produção exige atenção aos detalhes: escolha dos maltes, controle da fermentação, equilíbrio do amargor e paciência para o envelhecimento.

Com as técnicas e recomendações apresentadas, você está preparado para produzir uma Old Ale autêntica, seja para consumo jovem ou para desfrutar ao longo de anos.

Quer aprofundar ainda mais sua produção? Experimente adaptar a receita sugerida, teste diferentes tempos de guarda e descubra como a oxidação controlada pode transformar sua cerveja!

#266 – Brassando com Estilo: Red IPA

Red IPA: Complexidade e Técnicas de Produção

A Red IPA (India Pale Ale) é um estilo que se destaca pela complexidade e pelos desafios técnicos que apresenta. Diferenciar uma Red IPA de outras variações do estilo IPA, além de equilibrar seus elementos sensoriais, demanda conhecimento e precisão no processo de produção.

Com a parceria da Lamas Brewshop, da Hops Company, da Levteck e da Cerveja Stannis, e juntamente com o Jamal Awadallak, exploramos os detalhes que tornam esse estilo único e como obter os melhores resultados ao produzi-lo.

O que é uma Red IPA?

A Red IPA é um híbrido moderno que combina características da American IPA com a American Amber Ale. O estilo se caracteriza pela combinação de um perfil lupulado e amargo, típico das IPAs, com notas de caramelo, toffee e frutas escuras, mais comuns nas Amber Ales. Essa combinação cria uma cerveja que é ao mesmo tempo fácil de beber, mas rica em sabor e complexidade.

Histórico e Origem da Red IPA

A Red IPA é um híbrido moderno que mistura elementos da American IPA com a American Amber Ale. Uma das primeiras referências do estilo é a cerveja ‘Socket Red’ da cervejaria Midnight Sun, localizada no Alasca. Criada nos anos 2000, essa cerveja possuía 5,7% de teor alcoólico e utilizava uma combinação de lúpulos como Cincoi, Cascade, Centennial e Miranda, alcançando cerca de 70 IBUs. Essa criação marcou o início de um estilo complexo que desafiaria os cervejeiros em sua produção.

Definição pelo BJCP

De acordo com o BJCP (Beer Judge Certification Program), a Red IPA faz parte do estilo 21B Specialty IPA. A descrição oficial aponta que a cerveja deve ter uma amargura moderadamente alta, teor alcoólico médio-alto e um perfil de malte que remeta a caramelo, toffee ou frutas, mantendo um final seco e corpo leve.

Aparência

A Red IPA apresenta uma cor que varia de âmbar avermelhado claro a cobre avermelhado escuro, podendo ter leve turbidez. O colarinho costuma ser de médio tamanho, indo do quase branco ao creme, com boa persistência.

Aroma

O aroma da Red IPA é predominantemente lupulado, com notas de frutas tropicais, cítricas, resinosas, pinho, frutas vermelhas e melão. O malte contribui com aromas de caramelo, toffee, pão tostado e frutas escuras.

Sabor

No sabor, o equilíbrio entre lúpulo e malte é essencial. O amargor varia de médio a muito alto, mas sem aspereza. O final é seco a médio, com retrogosto amargo e maltado, sem que o malte ofusque o lúpulo.

Sensação na Boca

A sensação na boca é de corpo médio-leve a médio, com carbonatação média a alta. O aquecimento alcoólico é opcional, e a textura deve ser macia e sem aspereza.

Estatísticas do Estilo

  • Densidade Inicial (OG): 1.056 – 1.070
  • Densidade Final (FG): 1.008 – 1.016
  • IBUs: 40 – 70
  • Cor (SRM): 11 – 17
  • Teor Alcoólico: 5,5% – 7,5%

Exemplos Comerciais

Alguns exemplos comerciais citados pelo BJCP incluem:

  • Avery Hog Heaven
  • Cigar City Tocobaga Red IPA
  • Modern Times Blazing World
  • Troegs Nugget Nectar

A Complexidade Sensorial da Red IPA

A Red IPA apresenta um perfil sensorial único, onde o aroma de lúpulo pode variar de moderado a forte, com notas de frutas tropicais, cítricas, resinosas, de pinho, frutas vermelhas ou melão. O malte, por sua vez, traz um aroma adocicado de médio a baixo, combinando caramelo, toffee, pão tostado e caráter de frutas escuras. O equilíbrio entre esses elementos é essencial para evitar conflitos sensoriais e garantir uma experiência harmoniosa ao consumidor.

Desafios na Cor e Aspecto Visual

Atingir a coloração avermelhada desejada na Red IPA é um dos principais desafios para os cervejeiros. A cor varia de âmbar avermelhado claro a cobre avermelhado escuro, sendo a limpidez opcional. Uma Red IPA muito turva e marrom pode causar uma percepção negativa, já que o visual impacta diretamente a experiência sensorial. Uma faixa de cor muito específica é necessária para atingir o tom rubi, e muitos cervejeiros recorrem a técnicas não convencionais, como o uso de hibisco ou suco de beterraba, para alcançar essa coloração.

Escolha dos Lúpulos e o Equilíbrio Sensorial

A escolha dos lúpulos na produção de uma Red IPA pode determinar o sucesso do equilíbrio sensorial da cerveja. Embora seja possível utilizar lúpulos tropicais, muitas vezes o uso de variedades mais clássicas norte-americanas, como os ‘3Cs’ (Cascade, Centennial e Columbus), oferece um resultado mais harmonioso quando combinado com o caráter de maltes caramelizados. A decisão cuidadosa dos lúpulos pode evitar o excesso de aromas tropicais, que podem entrar em conflito com o perfil adocicado do malte.

O Desafio da Cor Vermelha na Cerveja

Alcançar a cor vermelha ideal em uma Red IPA vai além da simples escolha de maltes caramelizados. O estudo da Breeze, mencionado no podcast, destaca que a cor da cerveja não depende apenas da escala SRM/EBC, mas também da translucidez e da interação da luz com o líquido. Maltes de tosta seca, como Pilsen, Pale Ale, Viena e Munique, tendem a permitir mais passagem da luz vermelha, enquanto maltes mais escuros, como Carafa 3, bloqueiam o espectro vermelho e resultam em tonalidades mais amarronzadas. Esse conhecimento é crucial para quem deseja alcançar o tom rubi característico sem comprometer o sabor da cerveja.

Artigo da Briess sobre comparativo do uso de maltes para atingir a cor vermelha

A Construção do Grist Ideal

Para construir um grist adequado para a Red IPA, recomenda-se uma base de 70% a 80% de malte base, como o malte pilsen ou pale ale. Embora o Mary’s Otter seja uma excelente opção, seu custo elevado no Brasil pode inviabilizar seu uso em produções maiores ou cotidianas. O uso de maltes especiais deve ser criterioso, equilibrando maltes kilnitz, como melano, viena e munique, com maltes caramelo mais claros e escuros para atingir o tom avermelhado desejado sem exagerar no dulçor.

Seleção de Maltes Especiais

A escolha dos maltes especiais é fundamental para o sucesso da Red IPA. Entre os destaques estão:

  • Melano: até 20%, embora seja necessário cuidado para não exagerar.
  • Malte Viena: contribui com notas tostadas e um leve aumento na cor.
  • Carared: excelente para alcançar o tom vermelho e adicionar notas de caramelo, mel e biscoito.
  • Maltes Caramelo (Crystal 60 e 120): permitem criar blends interessantes que equilibram toffee, casca de pão e um dulçor moderado.
  • Carafa Special 3: usado em pequenas quantidades para ajustar a cor sem trazer sabores torrados excessivos.

O Papel do Açúcar Simples na Receita

Uma estratégia mencionada no podcast é o uso de açúcar simples para ajudar a secar a cerveja e evitar o dulçor excessivo. Além disso, a ideia de utilizar caramelo de açúcar simples, inspirado nas cervejas inglesas tradicionais, pode ser uma abordagem inovadora para alcançar o tom vermelho desejado e manter o perfil sensorial equilibrado.

Jamal sugeriu inclusive testar o uso de caramelos mais escuros para obter o tom vermelho, evitando o uso excessivo de maltes caramelo e mantendo a cerveja seca. Essa técnica, além de trazer a cor ideal, pode evitar o perfil de maçã indesejado associado a algumas leveduras inglesas em combinação com açúcares simples.

Mosturação e Perfil de Dulçor

Para evitar que a Red IPA se torne enjoativa, o ideal é manter a temperatura de mosturação na faixa inferior, entre 64ºC e 65ºC. Essa escolha ajuda a criar um corpo mais leve e um final mais seco, balanceando o caráter maltado e o amargor característico do estilo.

Mesmo utilizando açúcar na receita, manter essa faixa de temperatura é essencial para evitar um dulçor residual excessivo que possa conflitar com o perfil lupulado.

Seleção de Lúpulos para Red IPA

Os lúpulos são, sem dúvida, o principal ingrediente de uma Red IPA. Historicamente, as primeiras versões desse estilo utilizaram os chamados “4 Cavaleiros do Apocalipse Lupulístico”: Cascade, Chinook, Columbus e Centennial. Essa escolha se alinha perfeitamente ao caráter caramelizado da Red IPA, criando um equilíbrio sensorial ideal.

Além dos lúpulos clássicos, Henrique e Jamal discutiram a possibilidade de utilizar lúpulos mais modernos, como Citra, Amarillo, Simcoe e até mesmo Mosaic, para dar um toque frutado e mais contemporâneo à cerveja, desde que essa combinação seja feita com parcimônia.

Quantidade e Técnicas de Lupulagem

Para atingir o perfil ideal de amargor e aroma, o podcast sugere uma abordagem equilibrada:

  • Amargor Inicial: Utilização de lúpulos com alto teor de alfa-ácidos, como Magnum, Apollo e Pato, para maximizar o amargor sem adicionar matéria vegetal excessiva.
  • Whirlpool Hopping e Dry Hopping: A recomendação inicial é de 5 gramas por litro em cada etapa, considerando que o objetivo é preservar o equilíbrio e evitar excessos, uma prática comum nas IPAs modernas.

Fermentação: Limpeza e Boa Atenuação

A fermentação na Red IPA deve buscar uma boa atenuação e um perfil sensorial limpo. Para isso, as leveduras recomendadas incluem:

  • US-05 (Fermentis)
  • BRY-97 (Lallemand)
  • West Coast Ale (LevTech – TechBrew09)
  • AY4, conhecida por proporcionar um caráter neutro e boa atenuação.
  • S-04, especialmente se o objetivo for obter um leve frutado e facilitar a clarificação da cerveja.

Jamal destacou o uso da levedura S-04 em fermentações mais baixas (17ºC) para obter um frutado sutil e facilitar a clarificação, reforçando que a aparência limpa da Red IPA é essencial para destacar o visual avermelhado característico.

A interação aditiva entre ésteres frutados e o perfil de lúpulo foi explorada, sugerindo o uso de leveduras como London Ale e Conan, que podem potencializar a percepção de lúpulo na cerveja.

Ajustes na Água e Controle de pH

Henrique e Jamal também discutiram a importância do controle de pH durante a produção da Red IPA. O uso de maltes caramelos tende a acidificar o mosto, baixando o pH. John Palmer sugere uma composição de água com 75 ppm de cálcio, 20 ppm de magnésio, 50 ppm de bicarbonato, 200 ppm de sulfato, 50 ppm de cloreto e 25 ppm de sódio. Essa composição ajuda a manter o equilíbrio entre o caráter lupulado e o dulçor do malte, além de favorecer a clarificação.

A discussão reforçou que o excesso de malte caramelo pode levar a uma queda acentuada no pH, especialmente em águas pouco mineralizadas, comuns no Brasil. O equilíbrio correto ajuda a evitar uma cerveja excessivamente ácida e a manter a estabilidade do sabor.

Carbonatação

A carbonatação recomendada para a Red IPA fica entre 2,5 a 2,7 volumes, proporcionando a liberação dos aromas de lúpulo e uma sensação refrescante ao beber.

Receita Sugerida para 20 Litros de Red IPA

Parâmetros Gerais

  • Densidade Inicial: 1.060
  • Densidade Final: 1.012
  • Cor: 14 SRM
  • Amargor: 52 IBUs
  • Teor Alcoólico: 6,3%

Grist

  • Malte Pale: 3,4 kg
  • Malte Viena: 1 kg
  • Caramunich 3: 410 g
  • Carared: 300 g
  • Melanoidina: 300 g
  • Carafa Special 3: 50 g (para ajuste de cor)

Lupulagem

  • Amargor: 40 g de Magnum (12% AA)
  • Whirlpool: 50 g de Cascade (5,5% AA), 50 g de Centennial (10% AA), 50 g de Chinook (13% AA)
  • Dry Hopping: 50 g de Cascade, 50 g de Simcoe (13% AA)

Procedimento

  1. Mosturação: 65°C por 60 minutos
  2. Recirculação constante no setup de brew in a bag
  3. Fervura: 60 minutos com adição de Magnum no início
  4. Whirlpool: Adicionar lúpulos ao desligar o fogo
  5. Fermentação: Iniciar a 18°C e subir para 21°C no final
  6. Dry Hopping: Durante o estágio final da fermentação
  7. Carbonatação: 2,7 volumes de CO₂

Dicas de Apresentação

Para destacar a cor avermelhada, Jamal sugere utilizar copos de vidro mais finos, como taças do tipo flute. Isso ajuda a luz a atravessar a cerveja, ressaltando os tons vermelhos e evitando que a cor pareça marrom ou turva.

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Conclusão

Produzir uma Red IPA exige habilidade e atenção aos detalhes, especialmente no equilíbrio entre o dulçor do malte caramelo e o amargor e aroma dos lúpulos americanos. O uso criterioso de maltes especiais, a escolha cuidadosa das leveduras e o controle de pH são fundamentais para obter uma cerveja vermelha vibrante, equilibrada e fácil de beber.

O podcast Brassagem Forte trouxe insights valiosos para os cervejeiros caseiros e profissionais que desejam explorar esse estilo. Com as dicas e sugestões compartilhadas, é possível criar uma Red IPA autêntica, que se destaca pela aparência, sabor e drinkability. Agora é colocar a mão na massa, ou melhor, no mosto, e aproveitar o processo de produção dessa cerveja complexa e deliciosa!

#262 – Brassando com Estilo: Belgian Single

Belgian Single: História, Produção e os Desafios da Classificação no BJCP

A Belgian Single é um estilo de cerveja belga tradicionalmente produzido em monastérios, mas que ganhou definição moderna apenas recentemente. Popular entre cervejeiros caseiros e comerciais, essa cerveja combina leveza, alta atenuação e um amargor distinto, tornando-se uma escolha versátil para quem aprecia as características das trapistas sem um alto teor alcoólico.

Com a parceria da Lamas Brewshop, da Hops Company, da Levteck e da Cerveja Stannis, e juntamente com o Jamal Awadallak, vamos explorar a história, a produção e os desafios da classificação da Belgian Single no BJCP, além de dicas para replicá-la com autenticidade.


O que é a Belgian Single?

A Belgian Single é um estilo de cerveja de baixo teor alcoólico, geralmente entre 4,8% e 6% ABV, sendo uma versão mais leve das Belgian Tripels e Blondes. Historicamente, as cervejas de mosteiros e abadias belgas possuíam variantes mais fracas destinadas ao consumo dos monges. No entanto, a primeira referência moderna desse estilo surgiu apenas em 1999, com a Westvleteren Blonde.

Uma característica interessante da cultura cervejeira belga é que, ao contrário do que ocorre em outros países, os produtores não se preocupam tanto com a definição de estilos. Muitas cervejas belgas são nomeadas com base na sua densidade original (Plato), cor ou simplesmente recebem um nome próprio, sem uma categorização formal.


Perfil Sensorial da Belgian Single

A Belgian Single se destaca pelo equilíbrio entre a fermentação limpa e o uso de lúpulos nobres, mantendo alta drinkability. Confira as principais características:

Aparência: Amarelo-clara a dourado-médio, geralmente límpida, mas pode apresentar turbidez devido à refermentação na garrafa.
Aroma e Sabor: Frutado e condimentado na medida certa, com notas de pão, mel e biscoito. O lúpulo é perceptível, proporcionando amargor médio a alto.
Atenuação: Elevada, acima de 85%, resultando em um final seco e refrescante.
Carbonatação: Alta (2,5 a 3,0 volumes de CO₂), conferindo uma textura efervescente e leveza.

O BJCP (Beer Judge Certification Program) classifica a Belgian Single como uma interpretação belga de uma German Pils, enfatizando a alta atenuação e o caráter lupulado. No entanto, essa comparação pode ser exagerada, visto que a complexidade da levedura belga adiciona uma camada extra de sabor e aroma ao estilo.


Desafios na Classificação da Belgian Single

Apesar de seu perfil bem definido, a Belgian Single enfrenta desafios na sua categorização oficial. O BJCP descreve o estilo como fortemente condimentado e fenólico, mas essa definição pode não representar com precisão os exemplares mais autênticos encontrados na Bélgica.

Condimentado e Fenólicos: Brasil vs. Bélgica

Os exemplares produzidos na Bélgica são, na maioria das vezes, menos condimentados e fenólicos do que aqueles feitos no Brasil ou nos Estados Unidos. Isso acontece porque muitas receitas fora da Bélgica acabam exagerando nos fenóis e no dulçor residual, resultando em cervejas menos atenuadas e menos equilibradas.

Impacto do BJCP nos Concursos de Cerveja

Para quem deseja submeter uma Belgian Single em concursos de cerveja, é essencial adaptar a receita às diretrizes do BJCP. Algumas estratégias para obter pontuações mais altas incluem:

Aumentar o amargor dentro do limite superior do estilo.
Reforçar o caráter lupulado, sem perder o equilíbrio com a levedura.
Utilizar uma levedura belga clássica, evitando exageros nos fenóis.
Garantir alta atenuação, para evitar dulçor residual excessivo.


Como Produzir uma Belgian Single Autêntica?

Agora que entendemos o estilo, vamos às melhores práticas para produção da Belgian Single, seja em cervejarias comerciais ou em cervejeiros caseiros.

1️ Ingredientes Principais

Malte: A base da Belgian Single é Malte Pilsen belga, que tem um dulçor residual sutil em comparação com maltes Pilsen alemães ou brasileiros.
Lúpulos: Tradicionalmente, os belgas utilizam Saaz, Styrian Golding e Hallertau Mittelfrüh, que oferecem um amargor limpo e elegante.
Açúcar: Não é essencial, mas pode ser usado (até 5%) para aumentar a atenuação.
Levedura: As leveduras belgas são essenciais para o perfil do estilo. Algumas opções recomendadas incluem:


2️ Fermentação e Controle de Temperatura

O processo de fermentação belga segue um método chamado “Free Rise”, que consiste em inocular a levedura em temperatura mais baixa (18-20°C) e permitir que ela suba naturalmente até 24-29°C.

Comparação de fermentação entre mosteiros belgas:

  • Westvleteren: Inóculo a 20°C, sobe até 29°C
  • St. Bernardus: Inóculo a 20°C, sobe até 24°C
  • Westmalle: Inóculo a 18°C, sobe apenas até 20°C
    Achel: Inóculo a 17°C, sobe até 23°C

Essa técnica permite um controle refinado da produção de ésteres e fenóis, garantindo uma drinkability superior.


3️ Ajuste da Água

A água utilizada na produção da Belgian Single deve reforçar a maciez, sem exagerar na secura. Para isso, recomenda-se:

Cloreto (~100 ppm): Melhora a sensação de maciez.
Sulfato (moderado): Evitar excessos para não acentuar secura extrema.
Cálcio: Auxilia na clarificação e estabilidade da fermentação.


4️ Carbonatação e Envase

A Belgian Single exige uma carbonatação elevada (2,5 a 3,0 volumes de CO₂), mas isso pode gerar desafios no envase.

Métodos de Carbonatação:
1️⃣ Priming na garrafa (refermentação): Método belga tradicional, mas exige garrafas reforçadas.
2️⃣ Carbonatação forçada no Post-Mix: Alternativa moderna e segura, evitando riscos de explosão em garrafas frágeis.


Conclusão: O Equilíbrio Perfeito na Belgian Single

A Belgian Single é um estilo fascinante, que equilibra amargor, atenuação e complexidade sensorial. Embora sua classificação pelo BJCP tenha algumas imprecisões, entender a produção autêntica permite criar versões mais fiéis ao estilo original.

Dicas finais para acertar na Belgian Single:
✔ Mantenha a fermentação controlada com Free Rise.
✔ Use lúpulos nobres para amargor limpo e equilibrado.
Evite exageros nos fenóis e no dulçor residual.
✔ Ajuste a água para garantir maciez e equilíbrio.

Se você deseja aprofundar seus conhecimentos, o livro “Brew Like a Monk” continua sendo uma referência essencial para entender as técnicas belgas.

Agora é hora de brassar a sua própria Belgian Single!

#251 – Brassando com Estilo: Wee Heavy

As coisas escalam rápido no programa, de sem prestigio a desafio interessante

Com a parceria da Lamas Brewshop, da Hops Company e da Levteck, vamos acabar de uma vez com a ideia de cervejas escocesas defumadas e propor desafios. Vamos falar de Wee Heavy!

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#245 – Brassando com Estilo: International Pale Lager

A linha é tênue, mas o estilo existe.

Com a parceria da Prússia Bier, da Cerveja da Casa, da Hops Company e da Levteck, vamos entender esse estilo que veio para preencher uma lacuna entre as american e czech lagers. Vamos falar de International Pale Lager!

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#243 – Brassando com Estilo: Wood-Aged Beer

Cervejas em barris de madeira já foi a coqueluche do momento!

Com a parceria da Prússia Bier, da Cerveja da Casa, da Hops Company e da Levteck, vamos entender porque o termo “envelhecido” em cerveja está conceitualmente errado, praguejar o BJCP e falar um pouco sobre madeira. Vamos falar de Wood-Aged Beer!

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#240 – Brassando com Estilo: Roggenbier

Estilo histórico e esquecido num canto da Alemanha.

Com a parceria da Prússia Bier, da Cerveja da Casa, da Hops Company e da Levteck, vamos entender porque usar centeio na sua cerveja pode ser uma dor de cabeça e talvez o motivador desse estilo quase desaparecer. Vamos falar de Roggenbier!

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#236 – Brassando com Estilo: Black IPA

Cascadian Dark Ale, American Black Ale ou simplesmente Black IPA

Com a parceria da Prússia Bier, da Cerveja da Casa, da Hops Company e da Levteck, vamos trazer do esquecimento esse estilo que hora tá vivo, hora ta morto e descobrir que as raizes são mais antigas do que a própria American IPA. Vamos falar de Black IPA!

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#233 – Brassando com Estilo: Alternative Grain Beer

A alternativa para pessoas com alergia a glúten ou mais uma ferramenta para adicionar complexidade as nossas cervejas?

Com a parceria da Prússia Bier, da Cerveja da Casa, da Hops Company e da Levteck, vamos olhar para maltes diferentes dos que já estamos acostumados e entender o que constitui esse estilo. Vamos falar de Alternative Grain Beer!

Pesquisa Brasileira de Cervejeiros Caseiros – 2024

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